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terça-feira, 21 de abril de 2009

A Cura Para a Alma



Por Eleny Vassão de Paula Aitken
Era a primeira vez que entrava na Enfermaria Feminina do Setor de Psiquiatria. O estigma da loucura também me alcançara; eu esperava encontrar por trás daquelas portas gente diferente, com a cara da loucura. Meus joelhos tremiam, mas o espírito de desafio empurrava-me para frente. O desejo de ajudar superava o medo e o sentimento de incapacidade. Ao caminhar pelos corredores, me surpreendi, pois encontrei gente. Pessoas com rostos aflitos, outros distantes da realidade caminhando como autômatos, sem direção, mas ainda eram gente. Em meio à minha ignorância, comecei a ouvi-los, dar-lhes carinho e atenção, e descobri que muitos de seus problemas, preocupações, culpas e ansiedades eram comuns ao resto da humanidade, mas em maior gravidade. Nos rostos sem vida, nos pés inseguros, um enorme vazio existencial.
Viktor Frankl, pai da logoterapia, diz: “as pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm por que viver; têm os meios, mas não tem o sentido.” Essa falta de sentido na vida gera insegurança e desmotiva as pessoas a enfrentarem seus problemas de maneira sadia. Para que reagir e lutar, se a vida não tem nenhum propósito? Apoiadas em seus próprios e parcos recursos, tentam enfrentar a vida, mas as frustrações lhes trazem insegurança e medo. Estão soltas na vida, sem qualquer referencial, sem ter para quem correr em busca de socorro, sem estímulo para continuar a luta. Perda, frustração, tristeza, medo, insegurança, culpa, ansiedade, desespero, vazio existencial, denotam o já equilíbrio biológico, e por conseqüência, emocional e mental.
Ser tratado como vítima das circunstâncias é algo cômodo para o paciente, mas ao mesmo tempo humilhante. Os medicamentos ajudam em momentos de maior necessidade, mas não curam a alma, ou ensinam a viver. Como se pode despertar num paciente o sentido de que é responsável por algo perante a vida, por mais duras que sejam as circunstâncias? Torna-se necessário o atendimento espiritual à estes pacientes. Eles precisam saber que foram feitos um a um, como uma obra-prima do Criador, que traçou um plano para cada ser, fazendo com que suas vidas possam transbordar de sentido e realização. Ao perceber vislumbres da pessoa de Deus, provar de Seu amor e descobrir que com Sua ajuda e direção os problemas mais complexos podem ser solucionados, o paciente aos poucos torna-se mais seguro, e descobre que todos os erros de seu passado podem ser perdoados e apagados, diante de Deus e das pessoas. A vida passa a ter a plenitude de sentido, ao encontrar seu sentido em Deus e em servir seus semelhantes. Quando o paciente descobre que não é uma vítima incapaz de alterar sua sorte, mas um agente, perdoado, fortalecido e capaz, então encontra a esperança que o ajuda a enfrentar o sofrimento, as crises, os traumas, acelerando seu tratamento.
Muitas e variadas são as formas de ajudar o paciente a reencontrar o compasso da vida. A música é uma delas. Através da musicoterapia centrada em Deus, a harmonia dos sons faz, a princípio, com que ela se sinta fora compasso, desafinada em dar as notas da vida. Aos poucos vai se soltando, percebendo que é aceita e amada, mesmo quando andou toda a vida fora do ritmo; descobre que pode encontrar o equilíbrio, a paz, a alegria, a música, mesmo que ela seja triste, em meio ao sofrimento. O Serviço Evangélico de Capelania traz ao encontro do paciente, um conjunto de médicos e estudantes de medicina do HCFMUSP, e outros conjuntos musicais que cantam a mensagem de esperança e vida, do encontro com Deus, do perdão e da paz. Um ministro de música traz a melodia e o ritmo como descontração, liberdade e mensagem de solidariedade, lembrando-lhes que estão vivas, e que os problemas têm solução. Dia a dia os pacientes são acompanhados individualmente através do aconselhamento, demonstrando-lhes amor sem impor condições, ouvindo suas dores, procurando na raiz de cada história o fator desencadeante do transtorno psiquiátrico, e ajudando-os a encontrar segurança e paz em sua amizade com Deus.
T., paciente do Setor de Psiquiatria, disse: “Eu descobri que existe um Deus que se importa comigo, e Ele está me ajudando a reorganizar a minha alma.. Descobri que posso mudar as circunstâncias, e fazer com que as pessoas também se importem comigo.”
L., disse: “O ECT ajuda, mas não pode resolver meus problemas, porque ele não alcança a minha alma. Só Deus pode fazer isso. “A pessoa de Deus, através da Bíblia e de pessoas que se dispõe a ser usadas por Ele, faz com que tanto a medicação, como o tratamento feito através de cada profissional, cooperem para que a música ganhe sua plena harmonia na vida de cada paciente.

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